PAULO ROBALO nasceu em Lisboa em 1965, cidade onde vive e trabalha. Licenciado em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, mostrou o seu trabalho plástico de forma regular até meados dos anos 90’s.
Após esta altura, iniciou a sua formação e trajetória em Design Cénico Contemporâneo, numa fusão de pintura e instalação nesta forma integradora de criação artística. Leccionou o curso de Cenografia e Coordenou o curso de ofícios do espetáculo na escola Chapitô durante mais de uma década.
Desde 2007, foi colaborador e coordenou oficinas de Pintura de “Backdrop” na ACE, no Porto assim como orienta oficinas de Design Cénico Contemporâneo na escola Restart, colaborando também com a World academy. É docente da disciplina de Desenho na Escola artística António Arroio em Lisboa.
Criou em 2015 a associação cultural Passevite, conjuntamente com o pintor Mathieu Sodore e os designers Rui Lourenço e Daniel Nascimento. Neste espaço atelier /galeria ,desenvolve-se uma programação e reflexão artística anual, assim como projetos de desenho/pintura, residências artísticas e intervenções sob a forma de “site specific”.
SOU EU A PINTAR OU É PINTURA A PINTAR POR MIM?
Quando me coloco perante esta pergunta, fico quase sempre sem saber que resposta dar. Mais fico também sem saber para quê?
O Porquê e o para quê?
O que andarei para aqui a fazer, para onde me encaminhar ? que caminhos escolher?
LER MAISEsta maleita diária sem farol persiste desde o começo e não acaba nunca. Depois para me refazer desta penumbra e inquietação, pego ansiosamente nos lápis, nas tintas e recomeço a fazer, apago ou não e recomeço. Sobreponho e refaço, insisto e volto á procura e volto a fazer.
Raras vezes ao percorrer este caminho encontro o lugar, talvez utópico, onde mora o bem estar e a sensação de ter cumprido uma missão que não sei bem qual é. Fico aliviado completo e feliz, momentaneamente feliz.
Procuro sem saber bem o que procurar, mas procuro o objectivo supremo de atingir um sublime, esse lugar distante que de momento ainda não tive o prazer chegar.
Depois do turbilhão recorrente das inquietações, vem a necessidade de dar um sentido mais conceptual a este processo e fico contente com a ideia menos simples de que afinal o desígnio dos artistas é redesenhar a existência.
Soa-me grandioso, soa-me bem.
Sou invadido pela grandeza dos mestres que muito admiro:
Os Velasquez ; os Goyas; os Paolo Ucellos ;Os Turner, e os mais recentes: o esquecido Giorgio Morandi; o Francis Bacon; o Anselm kieffer, o David Hockney;o desaparecido de forma prematura Juan Munoz; o Anish kapoor; o Kabacov; O Boltanski,;o exímio desenhador william kentridge; o matérico Miquel Barceló, e voltam os Veermers, os Giottos e todos os outros Caravagios que nunca caberiam aqui dizer todos.
Que sentido faz afinal pintar e desenhar quando eles já o fizeram de uma maneira tão sublime e magistral?
É a obstinação que obriga a continuar este caminho sinuoso.
E não é que nesta auto-estrada do inferno dos sentidos, cruzo-me com frequência com os novos profetas, os curandeiros da arte, os doutrinadores e outros evangelizadores plásticos?
Estes aprumados senhores muito seguros de si que impõem as suas moralidades estéticas e intelectuais irrevogáveis.
Figurativo, figurativo matérico ? pintura orgânica? Horror! Aberração! A condição humana? Outra vez ? Tema tão batido e tão desadequado nos dias que correm, tão fora das novas linguagens artísticas e geo-estratégicas emergentes.
Que fazer a seguir perante estes doutos e sapientes, o mainstream actual?
Estes senhores e outros apeliados de novos curas , os curandeiros da nova ordem da estética que tão bem escrevem que até não chegamos a entender o que tanto e fundamental nos têm a dizer.
A muje segundo eles,o topo do topo ,os himalais das presentes tendências , é precisamente seguir as tendências emergentes, exercitar o olhar fora das fronteiras do verosímil , ir ao encontro das trans das trans vanguardas abstracionistas, do racionalismo trans abstrato, da arte versus ciência e do minimalismo, sobretudo do minimalismo, que não se deve nunca confundir com o mínimo mas que deve estar sempre associado aquilo que fica bem mas nunca se percebe bem.
A Arte para os iluminados.
E pergunto aos iluminados, quantas vezes a pintura já morreu? Quantas vez já ressuscitou e quantas mais irá ressuscitar?
Milagrosamente outra vez, volto ao inicio, lá vem de novo o chamamento dos odores do óleo de linhaça, da cera de abelha, dos vernizes, da goma laca, do alcatrão, do pó de pedra da gestualidade, dos riscos e dos inúmeros acidentes que se transformam em deliberadas intenções criativas.
Uffff tudo isto é uma abissal canseira, associada ao facto da minha mãe sempre me ter dito que eu não tenho brilho nenhum.
Devo terminar este não queixume de forma semelhante ao seu começo, sem acrescentar nem mais saber que dizer, expressando publicamente a minha grande profunda admiração e fascínio pelo caos e até mais do que pela organização do caos.
E fica aqui também apresentado, mostrado, desenhado e pintado, um prazer dos bons, um dos maiores que conheço, e entre os maiores desejos, o desejo partilhado de ser inútil.
De toda a maneira chaleira persisto em seguir..
Por tudo isto, pelo que há de vir, doem-me os olhos de tanto crer continuar a olhar e a pintar…
Será que Pintar é estar doente dos olhos?
Paulo Robalo