PROJECT-ROOM Joanna Latka #07

Descrição

O estudante e o azarado Bordeaux, França, anos 1980. Fumando no meu pequeno apartamento, ouço a campainha, visto que espero por um amigo abro sem perguntar quem é. Aparece então um gajo que não conheço, mais o menos da minha idade, com uma grande pasta debaixo do braço.
“Sou estudante na Escola de Belas-Artes e para poder comprar um pouco de material vendo alguns dos meus desenhos.”
“Engraçado! Eu também ando na Belas-Artes e nunca nos cruzámos! (Apesar do rosto do tipo empalidecer um pouco, não achei estranho, pois éramos bastante numerosos na escola e estava longe de conhecer toda a gente). Bem, também estou sem dinheiro, portanto não vou comprar nada mas podes mostrar o teu trabalho na mesma.” Sem entusiasmo ele começa a espalhar desenhos, e… fiquei em estado de choque!
Pergunto:
“Nada mal este nu, que técnica usaste?”
“Uh … carvão”
“Não é carvão, não, é pedra negra! E sei disso porque sou EU quem fez este desenho!” (Agora estou a lembrar-me de ter deitado fora nos caixotes da escola alguns desenhos depois das aulas de modelo). Frente à evidência o freguês contou tudo: obviamente, não era estudante em artes, apenas procurava no lixo da Escola de Belas Artes trabalhos para vender depois. “Ouve, como realmente não tiveste sorte vou ser simpático: dou-te cinco francos pelo desenho (o equivalente a cerca de um euro) e vais-te embora”. Foi assim que, pela primeira vez, um desenho meu foi vendido, e que iniciei a minha coleção de obras de arte…

Nesta proposta de interação no processo criativo, envolvendo criador e espectador, a artista convida o público a participar de forma ativa na produção das suas obras. Desta vez, Joanna Latka não pretende captar apenas os seus momentos de vivência quotidiana, característica sempre presente no seu percurso. A artista vai querer que o visitante lhe conte as suas histórias, as suas vivências, para que as possa desenhar ao vivo, fazendo assim montagens das diversas situações numa só imagem. Falamos de episódios que podem ser as conversas que ouvimos no metro, no autocarro, no trabalho ou no supermercado. As notícias das primeiras páginas dos jornais, a confusão e o movimento da cidade, as discussões entre vizinhas, as conversas de casais no café, e tudo o resto o que faz parte do nosso dia-a-dia.