O LUGAR ONDE…

PAULO LOURENÇO : 2017.10.14




14 OUTUBRO A 08 NOVEMBRO DE 2017 : SERIGRAFIA

Estes dois conjuntos de trabalhos tomam como ponto de partida as reflexões de Didi-Huberman sobre o conceito de ‘matriz’.

O lugar onde alguma coisa é gerada, criada ou formada. A matriz é o ponto de partida para algo que nasce a partir do contacto com ela, originando um processo de proliferação, mas também, o paradigma de gerar ‘semelhança por contacto’ implícito no gesto que preconiza a impressão. Esta deflagra física e visualmente à semelhança de algo gravado sobre uma matriz; surge enquanto corpo produzido pela operação da impressão com as suas diferenças e semelhanças resultantes do contacto da matriz e do suporte, mostrando que a impressão é um procedimento aberto à experiência, permitindo alterações e novas explorações durante o acto da sua execução. É neste contexto que surge o conjunto de trabalhos, A raiz disto tudo é a Geometria, com origem em pequenas secções de plantas e mapas de cidades, construídos a partir de composições formadas por retículas e quadrículas que se estendem para além do limite do suporte, não tendo um início nem um fim. Podem ser observados de diferentes ângulos, podendo o espectador ‘entrar’ ou ‘sair’ do objecto por qualquer das suas arestas.

Já os Brancos de um só lugar representam extensões de caules de plantas. São raízes aéreas que correspondem à imagem de um emaranhado de linhas que se interligam, onde não se distingue início, centro e fim. Linhas que se propagam ad infinitum, incorporando cada uma o seu próprio devir dentro de um rizoma. Estes trabalhos resultam de uma pesquisa que encontra uma nova possibilidade de operar da serigrafia. O imprimir exaustivamente uma imagem sobre a mesma área de um único suporte, permite salientar a imagem impressa do plano que lhe serve de base, criando assim uma terceira dimensão – o que na prática nos indica o surgimento de um relevo, criado pela dissimulação da repetição da impressão de uma imagem na criação da prova única. Como tal, estes trabalhos procuram subverter os cânones habituais desta técnica que estipulam e utilizam a serigrafia como técnica meramente gráfica e planográfica, da qual não resultam relevos do acto da impressão, convertendo-a assim em técnica propiciadora de tridimensionalidade e de objectos com carácter instalativo.


+info : PAULO LOURENÇO