UPPERCUT
ANDRÉ CARRILHO : 2016-12-17
17 DEZEMBRO A 05 JANEIRO : ILUSTRAÇÃO
Uppercut : Um murro, desferido de baixo para cima, que viaja verticalmentepelo tronco do adversário até lhe acertar nos queixos. Isto é um uppercut.
E isto também é uma descrição muito exata das ilustrações que André Carrilho apresenta na exposição que tem nome de soco. São alguns dos seus cartoons editoriais mais marcantes, publicados nos últimos anos no Diário de Notícias, e que agora ganham nova vida em grande formato, fora do ambiente natural das páginas do jornal. Todas juntas, estas serigrafias são dança e são boxe, são um bailado de golpes certeiros. O combate da arte pela necessidade de entender o mundo.
Estes desenhos, bem vistas as coisas, mostram a razoabilidade do que está para além de qualquer razão. Reparem: são serigrafias de ataques terroristas e do que sobra deles. Da austeridade, da intolerância, da tortura, do abuso. Ainda assim, o que as torna extraordinárias é como estão subtilmente carregadas de ironia, às vezes de sarcasmo, a fazer lembrar-nos que o humor é a mais poderosa arma que possuímos enquanto espécie. Que só através dele podemos encontrar tranquilidade no caos e na inquietação do nosso tempo.
Cada uma destas imagens carrega uma expressão que vai muito para além da perceção imediata. Não são só cartoons. São textura, são narrativas inteiras, são muitas camadas de leitura. Ao grande carrossel da angústia humana Carrilho decidiu aplicar risco e colagem, visão e rasgo. E assim tornou tanto do que nos era inacessível em tangível, e tanto do que era poderoso em vulnerável. São murros no queixo, sim, e aleijam-nos e partem-nos. Mas, depois do silêncio e do vazio, essa é a única forma de nos tornarmos humanos outra vez.
Ricardo Rodrigues: jornalista
Uppercut – Exposição de serigrafias de André Carrilho.
Há quem diga que uma imagem vale mil clichés ou, num dia bom, um “uppercut” bem colocado. Esta é a oportunidade para ver uma selecção dos cartoons editoriais que André Carrilho publica semanalmente no Diário de Notícias, impressa e disponível para venda em edição limitada, numerada e assinada. É a primeira vez que estes desenhos estão disponíveis ao público, em grande formato, fora do seu ambiente natural das páginas dos jornais.