Que rico Artista me saíste!
Colectiva : 2024-08-10
10 / 31 AGOSTO 2024
Que rico Artista me saíste!
Curadoria : Sara Wual Barros + Joana de Barros Matos
Partindo deste excerto retirado do ensaio “On hating Students” publicado em Maio deste ano na E-Flux com autoria de Daniel Spaulding, Professor de Arte Moderna e Contemporânea na Universidade de Wisconsin-Madison, Universidade e centro de pesquisas nos estados Unidos – conhecida por ser altamente seletiva a nível de admissão -, a exposição irriga uma crítica satírica a um ainda culturalmente impregnado e inexoravelmente presente estigma na Sociedade Portuguesa sobre o papel e presença do Artista, com foco nos alunos de Belas Artes.
Com referência a vários momentos históricos datados e catalogados essencialmente a partir dos media, incluindo manifestações políticas e intervenções pacíficas, as quais interpreta Spaulding como wake-up calls para diferentes tensões ligadas a um panorama Internacional “sobreaquecido”, o ensaio, conduzido num tom subtilmente humorístico e sarcástico, incita a uma reflexão acerca daquilo a que apelida de um “ódio” socialmente aceite (mas não publicamente assumido) face à classe Estudantil Académica, motivada pela generalizada atitude reivindicativa, reativa e ativista de vários grupos de alunos em todo o Mundo. Spaulding questiona ainda o facto dos alunos serem vistos como “futuros trabalhadores” – rumo a um suposto Futuro que, realisticamente, se apresenta cada vez menos seguro -, embora muitos deles se vejam forçados a trabalhar durante todo o seu percurso Académico para conseguir pagar os elevados custos do Ensino Superior, carregando paradoxalmente consigo uma fama e imagem pública de agentes frequentemente equiparados a mão de obra “improdutiva” e não-qualificada, apesar de “estudante” e “trabalhador” serem dois termos que “teoricamente, se excluem mutuamente”.
Na interseção observável que aproxima o contexto Português com a realidade retratada e fundamentada por Daniel Spaulding, a exposição, que conta com a apresentação de obras selecionadas da autoria de 10 alunos da FBAUL, denuncia sarcasticamente o estigma ainda existente no imaginário coletivo Português face ao trabalho desenvolvido pelos alunos – afunilando especificamente para os alunos de Belas Artes -, que são, ainda à data presente, amiúde encarados e retratados popularmente como ociosos, incompetentes ou como agentes da Sociedade que “nada fazem” e “andam a passear”.
O espelho Societal atual, apoiado num quadro antigo historicamente condicionado por um elevado nível de analfabetismo da população em geral – por sua vez, demograficamente associado a pobreza e fracas condições de acesso à Educação -, embora caminhando numa direção mais letrada, informada e sensível ao conhecimento e ao trabalho de investigação patentes na prática artística, encontra-se ainda desventuradamente apartado das métricas e noções já bem estabelecidas e consolidadas a um nível nacional noutros países equiparáveis, considerados desenvolvidos, no âmbito da União Europeia.
O próprio nome escolhido para a Exposição Coletiva trata-se uma apropriação que pretende muito retilineamente denunciar, criticar e suscitar questionamento e reflexão em torno desta realidade, através do recurso a um dito popular bem conhecido e de fácil identificação para qualquer cidadão do nosso País, “grande artista que tu me saíste”, largamente empregado na gíria Portuguesa para definir ou acusar alguém de ser um indivíduo que transmite ares de ser esperto, mas inútil ou até matreiro perante determinada tarefa inacabada ou mal sucedida.
Excerto:
“(…) In recent weeks, thousands of students have been arrested, manhandled, banned from campus, evicted from housing, and attacked with rubber bullets, tasers, and chemical irritants at the behest of their own institutional leadership. (…)
What accounts for this collective pathology? Or to put it differently: Why does everyone hate college students?
The (…) sadism directed toward students is a fundamental component of public discourse on higher education. The student is somebody to whom discipline is always rightly forthcoming. Even more so when students are already hateworthy for other reasons: being humanities majors, feminists, queers, critics of colonialism. Even more abhorrent are art students, surely the most frivolous of all. But anti-student sadism generally does not dare speak its name outright.
(…)
What accounts for this distinction is that the student is seen as a future worker, or a potential future member of the reserve army of labor—even if, empirically speaking, a large percentage students work their way through college, and that ostensible future is increasingly a vanishing one. The myriad ways in which students feed into capital accumulation are not directly visible, since, qua students, students are not exploited. In this sense, their activities are perceived as analogous to other kinds of “unproductive,” unwaged labor, such as housework. (…) Graduate students, for one thing, are often clearly workers (as teaching and research assistants), and successfully organize as such. But “worker” and “student” are at least notionally meant to exclude each other.
(…)
The fact that (….) Students apparently have nothing more useful to do than to learn (or, heaven forbid, make art) is a source of envy, admiration, and resentment (…). To put it succinctly, poor people hate students for good reasons whereas rich people hate them for bad reasons. Is it possible to disentangle the rational hatred of the poor from the irrational hatred of the rich?”
in: “On Hating Students” Daniel Spaulding*
featured on E-flux on May 28, 2024
*Daniel Spaulding is an Assistant Professor of Modern and Contemporary Art at the University of Wisconsin-Madison. He is completing a book on the German artist Joseph Beuys. Writings of his have appeared in the October, Radical Philosophy, Historical Materialism, and Mute, among other publications. With Daniel Marcus and Jennifer Nelson, he is a founding editor of Selva: A Journal of the History of Art (selvajournal.org) https://www.instagram.com/selva_journal/
ARTISTAS PRESENTES :
Joana de Barros Matos
Joana de Barros Matos (Cartaxo, 1997) vive, trabalha e estuda atualmente em Lisboa. Frequenta o curso de Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, interessando-se pela pintura contemporânea e explorando alternâncias entre abstração e representação, incluindo composições contendo elementos matéricos de origem orgânica. Debruça-se sobretudo perante pinturas que combinam tinta a óleo e tinta acrílica, uma variedade de médios, implementação de pigmentos artesanais próprios, bem como diversidade no uso de elementos orgânicos e industriais. Tematicamente, a Artista está intimamente ligada às fragilidades da Natureza no contexto atual agravado pelas alterações climáticas, explorando a dualidade entre a pureza, serenidade e harmonia da Natureza – e do ecossistema-, e a sua constante ameaça. As suas obras promovem a reflexão relativa às inter-relações entre o homem e a natureza, desde à dependência humana dos recursos que a natureza oferece até à crítica do pensamento humano, através de metáforas visuais.
João Aires Gama
Nascido em Abrantes em 1998, atualmente vive e trabalha em Lisboa. Licenciado e com mestrado na FBAUL. O seu trabalho contempla a relação do indivíduo com o mundo, elevando o seu trabalho artístico a um diálogo com a matéria, cuja essência é a própria intuição do artista.
Viver e criar são processos inseparáveis e bastantes semelhantes. Ao se aproximar deles criasse menos espaço para a dúvida e a incerteza. Porque é através da dificuldade que se tem mais certeza do que se quer. No seu trabalho refletem se questões existenciais relacionadas com a vida; caminhada; viagem; intuição; espontaneidade da vida; acaso; autoconhecimento. O artista transporta toda a sua existência e as coisas que nela encontra para a matéria. É aqui que se encontra a fronteira entre o mundo natural e o mundo criado pelo Homem.
Em 2022 recebeu um apoio para a produção da Fundação ARCA. Ano em que foi também selecionado para expor na feira de arte JustLx. Expõe com regularidade desde o mesmo ano, destacando-se as exposições 2 por 1,5, Museu Nacional de Arte Contemporânea, 2024 Lisboa; Floresta, studio, 2024, Lisboa; JusTLx, 2022; São ou não, Galeria São Mamede, 2022.
A sua obra está presente na colecção da Fundação FMCMP, Espanha; Fundação ARCA; Hotel Santa Maria; coleções privadas.
Margarida Casquilha
Atualmente estuda Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, tendo também formação na área de Figurinos e Cenografia pela Escola de Ensino Artístico Especializado António Arroio. No seu trabalho expressa-se através de diferentes mediums tais como a pintura, a fotografia, a colagem e a assemblagem.
Entre maio e junho de 2024 expôs peças originais na Imobiliária IVENS Living Real Estate, no âmbito do projeto Ivens Perpectives, uma parceria realizada entre a imobiliária e a Faculdade de Belas-Artes, dinamizada pela docente Diana Costa.
Maria João Barcelos
Maria João Aleixo de Barcelos dedicou cinco anos à prática da arquitectura, mas a sua paixão pela pintura fez com que ingressasse na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em 2020. Esse percurso permitiu-lhe explorar formas distintas de comunicação visual e expandir o seu reportório artístico, tendo !nalizado a Licenciatura em Pintura em 2024. Com uma linguagem exploratória e diversi!cada, recorre a várias técnicas e meios de expressão, como a pintura a óleo, gravura, cerâmica, vidro, gesso, plástico e fotogra!a. Paralelamente, é Professora de Educação Visual e Educação Tecnológica no 2o e 3o ciclos. Já participou em várias exposições colectivas, nacionais e internacionais, no Museu de São Roque e no Museu do Carmo, em Lisboa, no Fórum Actor Mário Viegas, CCRS, em Santarém e na Casa de Portugal na Cité Universitaire, em Paris. Em junho de 2024, realizou a sua primeira exposição individual, na Galeria da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa.
Olavo Costa
Olavo Costa, 24 anos, Licenciado em Desenho pela FBAUL, Mestre em Ensino das Artes Visuais pelo IEUL, doutorando em Belas-Artes com especialização em Desenho na FBAUL. Professor de Artes Visuais no ensino público, artista e académico. Participou em múltiplas exposições coletivas tais como na Bienal de Londres – 5o Edição, Alunos da fbaul na Ermida – 2o edição, Drawing Room: Desenhos pela Cidade, Aveiro Jovem Criador 2022, Bienal de Vila Verde, Aveiro Jovem Criador 2023 e na Bienal Internacional do Alentejo. Conta com diversas exposições individuais tais como “Atravessar o Fantasma” e “Na Paragem do Olavo”. Apresentou artigos científicos em colóquios e encontros tanto em contexto académico como não académico. Experimenta também no campo da Performance e da Instalação.
Pedro Anacleto
Pedro Anacleto (Lisboa, 2002) é um artista português, baseado em Lisboa, licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Participou em algumas exposições coletivas, nomeadamente Volume III com o Coletivo Corrente de Ar, (2023) e enquanto integrante na XIX Edição Prémio Pintura e Escultura de Sintra D. Fernando II em Sintra (2024). É ainda, um dos selecionados para o Prémio Arte Jovem Fundação Millenium BCP 2024.
Sara Sepúlveda
Sara Sepúlveda, nascida em 2004, em Lisboa. Começou o seu percurso
artístico em 2019, na Escola Artística António Arroio, onde se especializou em Design de Produto. Encontra-se no terceiro ano da licenciatura em Pintura, na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Começou a expôr em 2021, numa feira de arte solidária, em Castro Verde. Em 2022, participou na 12a Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde. Um ano mais tarde, fez a primeira exposição individual no Atelier Artéria, através da qual participou na 14ª edição da Abertura de Ateliês de Artistas.
Suzy Willekens
Suzy Willekens é uma artista, natural dos Países-baixos, licenciada em psicologia que vive em Lisboa. A sua expressão artística inclui instalação e pintura. Está atualmente a frequentar a licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes de Ulisboa para aprender técnicas de pintura e integrá-las numa abordagem artística transdisciplinar. Atualmente está a realizar uma residência artística no bairro de habitação social Quinta da Fonte, onde está a trabalhar numa intervenção na paisagem urbana.
Tiago Picão Sanches
Tiago Picão Sanches. Português. Natural da Suíça. Gosta de trabalhar o espaço tridimensional, a estética relacional, a efemeridade, com um
pensamento transdisciplinar, desenvolvendo mais instalação e performance. Ultimamente tem-se interessado pelo presentismo absoluto pelo carácter post-medium das coisas que faz.
Tomás Gouveia
Nasceu no norte de Portugal e atualmente estuda em Lisboa, iniciando o meu terceiro ano na Licenciatura de Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Exposições individuais:
2023 – Exposição no Cubo Amarelo, Dona Ajuda, Lisboa
Exposições coletivas:
2024 – XVII Edição das Galerias Abertas da Faculdade de Belas Artes Lisboa
2024 – Exposição Coletiva “além mar: rotas subversivas” na Galeria de Arte Jandira Lorenz, Florianópolis, Brasil
2023 – XVI Edição das Galerias Abertas da Faculdade de Belas Artes Lisboa
Outros projetos:
2024 – Professor na 28o Masterclass no Lisbon Drawing Club, Atelier Artéria.